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As gerações da Portela - 94 anos

11/04/2017

Nada como um aniversário para refletir não só sobre o presente, mas sobre o passado e o futuro.

Nós, os de hoje, cumprimos nosso papel para com os de ontem.

Quase colocamos mais uma estrela em 2014, quase outra em 2015. Isso sem contar 2016 que foi aquela maravilha. E agora a glória de 2017.

Nada disso é por acaso, só nós sabemos que não caiu do céu, não caiu mesmo. Sabemos que foram degraus subidos a cada ano sob a liderança de Marcos Falcon, da chapa Portela Verdade.

Do caos para a luz.

Nós, os de hoje, cumprimos nossa missão com os de ontem.

Eles, os de ontem, que encheram nosso pavilhão de estrelas; eles Paulo, Caetano, Rufino, Alvaiade, Lino, Natal e tantos outros.

Eles Candeia, Manaceia, Chico Santana, Walter Rosa, Waldir 59, Alcides, Alvarenga, Casquinha, Argemiro, Monarco e tantos outros que até hoje marcam presença em todas as rodas de samba do Brasil.

Sim, em cada roda de samba, cada sambista, portelense ou não, todos, presenteiam as noites com a sonoridade incomparável dos sambas saídos das ruas simples de Oswaldo Cruz por tanto tempo. Sambas de enredo e, principalmente, sambas de terreiro.

Eles dos tempos heroicos, da estreia oficial de 35, da “invenção” dos desfiles temáticos de 39, dos carnavais de guerra dos anos 40, das batalhas nas ruas de Madureira com o Império Serrano na virada dos 40/50. Do Império da Serrinha ao Império de Natal até o começo dos 70.

De lá pra até outro dia a Águia voando ora baixo, ora a meia altura, nunca voando como voou no passado e como tem voado hoje: altaneira novamente.

Cumprimos nosso papel com eles, mas e aí… acabou nossa missão?

Pois a grandeza desta vitória apenas marca o início de novos tempos. Um compromisso infinitamente maior que o outro, com o passado: UM COMPROMISSO COM O FUTURO!

E que compromisso é este, com o futuro?

O compromisso com o futuro é estruturalmente o compromisso com o passado, respeitando nossa bandeira, nossos fundadores, nossos baluartes e nossa história. O livro de nossas histórias… aquele do Monarco. Compromisso com o futuro é contar nossa história para as crianças, adolescentes e os que nascem agora. É contar também a história do samba… e de todas as coirmãs para que a história seja mais forte, robusta e orgulhe a todos nós, portelenses ou não.

O compromisso com o futuro é marchar ao lado dos meninos do nosso Cultural para fazer valer tudo que construímos com nossas coirmãs, mas deixando bem claro a nossa parte nessa história tão bonita, nascida de filhos e netos de escravos e que hoje é a maior festa do Brasil, orgulho de todos, inclusive daqueles que de alguma forma ainda querem a escravidão, rejeitam valores republicanos e rejeitam o samba o resto do ano.

Valorizar o samba, a síncopa, a cadência real, orgulhar-se de sua formidável ala de passistas, suas baianas, a Velha Guarda, nossa estrela maior, seus compositores. Impedir aventureiros e profissionais que circulam ameaçadoramente por nossa ala na tentativa de impor seus escritórios. Que penetrem as demais escolas se assim elas permitirem, tolerá-las ou desejá-las, mas que nos deixem em paz fazendo sambas da forma que sempre fazemos, vitoriosamente, encantando o Brasil inteiro com nosso jeito de ser e de fazer samba.

Compromisso com o futuro é seguir agora em paz, sem o peso do jejum maldito que pesou tanto tempo feito cruz sobre cada um de nós.

Seguir buscando títulos, mas conscientes de que a Portela é infinitamente mais do que vencer carnavais. Muito mais do que só pensar em vencer carnavais.

Ter a consciência de que vencer carnavais não é um fim em si, é apenas parte de nossa história repleta de títulos que são a resultante de nosso esforço de fevereiro junto de nossas atividades de ano inteiro.

Saber que nossa escola não é só fevereiro, embora seja sempre fevereiro em nossas vidas.

 

 



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