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2018
Na intensa “dança das cadeiras” para o carnaval de 2018, a consagrada carnavalesca Rosa Magalhães foi contratada para substituir Paulo Barros. Não era a primeira vez que a professora se encontrava com a Águia altaneira de Madureira. Em 1977, isto é, quarenta e um anos antes, ela havia sido a figurinista do enredo “Festa da Aclamação”, desenvolvido pelo Departamento Cultural da escola, liderado por Hiram Araújo. Na busca pelo bicampeonato, a Portela também trouxe de volta a porta-bandeira Lucinha Nobre, desta vez para dançar com Marlon Lamar, jovem mestre-sala paulistano que buscava se afirmar no carnaval carioca. Uma terceira mudança ocorreu na Comissão de frente, com a chegada do coreógrafo Sérgio Lobato. Por fim, com as saídas de Paulo Barros e Moisés Carvalho, o experiente Junior Schall chegou para integrar a comissão de carnaval da Portela, ao lado de Fábio Pavão, Claudinho Portela e Marcos Aurélio Fernandes, que foi incorporado à equipe.
A crise econômica do país impactava cada vez mais o carnaval. Na verdade, seus efeitos já eram sentidos desde a preparação para o desfile de 2016, quando a alta do Dólar dificultou a importação dos fornecedores, aumentando o custo das escolas. Patrocinadores, como o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a Petrobras, também haviam abandonado o espetáculo. Contudo, a prefeitura carioca havia aumentado o repasse para as agremiações de maneira compensatória, minorando as dificuldades. Para o carnaval de 2018, com os barracões já em atividade, o poder público do município anunciou o corte de metade da verba. Uma empresa do setor de transportes por aplicativo compensou parte das perdas, com um patrocínio via lei Rouanet. Foi também na preparação para o carnaval de 2018 que o Ministério do trabalho exigiu mudanças consideráveis na estrutura de ateliês e barracões, interditando-os por um longo período e atrasando os cronogramas.
O enredo escolhido tinha alma nordestina. “De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá...” narrou à saga dos judeus que, fugindo da inquisição ibérica, migraram para o nordeste brasileiro, especialmente para Pernambuco, então ocupado pelos holandeses. Mais tarde, com a retomada da região pelas forças luso-brasileiras, estes judeus novamente se lançaram rumo ao desconhecido, desta vez migrando para o Norte, numa jornada que só terminou ao desembarcarem em Nova Amsterdã, região holandesa sob a administração da Companhia das Índias Ocidentais. Mais tarde, ao se tornar colônia britânica, esta região da América do Norte passou a ser conhecida como Nova York. Na disputa de samba, o compositor Samir Trindade saiu vitorioso pela terceira vez consecutiva, desta vez como líder de uma parceria que incluía Élson Ramires, Neyzinho do Cavaco, Paulo Lopita 77, Beto Rocha, J. Salles e Girão. A comissão de harmonia, que, com a saída de Jerônimo Patrocínio, passou a ser formada por Chopp, Leo Brandão, Nilce Fran, Márcio Emerson, Jorge Barbosa, Sérvolo Alves e Walter Moura, realizou grandes ensaios na quadra, na Estrada do Portela e na Intendente Magalhães, impressionando pela quantidade de componentes e pela garra por eles demonstrada.
Quando a Porela entrou na avenida, sendo a segunda a desfilar na segunda-feira de carnaval, o vento soprava forte. No alto do carro abre-alas, nomeado de “Nas asas da liberdade”, as asas da grande águia envergavam, deixando os componentes e os torcedores apreensivos. A porta-bandeira Lucinha Nobre, demonstrando grande habilidade, conseguiu manter a bandeira estendida. A comissão de frente, representando a “Diáspora”, encenou sobre um barco os desafios que os imigrantes enfrentam ao se aventurarem em mares bravios. No segundo setor, a fauna, a vegetação e a cultura nordestina foram apresentadas, culminando no carro número 02, um imenso tatu que abria e fechava sua carapaça, revelando e escondendo os componentes. Esta alegoria se chamava “Um príncipe holandês nas terras tropicais”, sendo que seu destaque Central, Carlos Ribeiro, também coordenador de destaques da Portela, representava o próprio Mauricio de Nassau.
Na sequencia, o enredo apresentou a prosperidade dos judeus já estabelecidos em Recife. O segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Yuri Souza e Camylla Nascimento, vestiam a fantasia “Recife, cidade dos sonhos”. A alegoria 03, “Formosa Recife”, fazia referência à própria capital do Estado de Pernambuco, especialmente sua arquitetura e tradições culturais. No quarto setor, o enredo retratou as batalhas que levaram à reconquista da região pelos portugueses. Bianca Monteiro, Rainha de bateria, brilhava vestida de “A bravura que conduz os soldados”. A Tabajara do Samba, comanda por Mestre Nilo Sérgio, rufava seus tambores fantasiados de “Soldados holandeses”. Também merece destaque a ala dos Impossíveis, tradicional grupo coreografado da Portela, que retornou às atividades sob o comando de Valcir Pelé. Eles representaram a “batalha da reconquista”, encenando o conflito entre as tropas leais a Portugal e Holanda. A quarta alegoria, um navio pirata, chamou a atenção pela riqueza de detalhes, tendo a frente um grupo representando o “brilho do mar”.
No quinto setor, a Portela levou para a avenida a realidade encontrada pelos judeus na América do Norte, com referências às tribos nativas que ocupavam a região, em especial os indígenas Moicanos, as atividades econômicas e os moinhos, icônicos na paisagem de qualquer núcleo urbano holandês, representados na avenida por um grupo de vinte componentes. O terceiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Emmanuel Lima, estreante, e Rosilaine Queiroz, que retornava após um ano de licença maternidade, desfilou representando “Os donos da Terra”. A quinta alegoria, “Nova Amsterdã”, fez nevar no tórrido verão carioca, com cinco grandes bisões reproduzidos de forma fidedigna. Por fim, no sexto e último setor do desfile, as fantasias faziam referência à saga dos imigrantes de nossos dias, bem como ao cada vez mais atual problema dos refugiados. A última alegoria trazia uma escultura gigantesca da Estátua da Liberdade, a “mãe dos excluídos”, tendo aos seus pés os tristemente famosos botes apinhados de seres humanos. Em um destes botes desfilou a carnavalesca Rosa Magalhães, que, como já virou tradição, sempre atravessa a avenida quase anônima.
Bastante elogiada, a majestade do samba deixou a avenida na disputa pelo bicampeonato. De fato, na apuração, a escola manteve-se na liderança até a leitura do quarto quesito, aumentando as esperanças de seus torcedores. Entretanto, os três décimos perdidos no quesito Comissão de frente, além de outros três distribuídos pelos quesitos Samba-enredo, Fantasia e Alegorias e adereços, colocaram a Portela na quarta colocação, dois décimos atrás da Campeã, Beija-Flor.
.FICHA TÉCNICA:
Presidente: Luis Carlos Magalhães
Vice-presidente: -
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Comissão de Carnaval: Fábio Pavão, Claudinho Portela, Marcos Aurélio Fernandes e Junior Schall.
Assistentes da Comissão de carnaval: Nívea Martini e Marcus Vinícius
Comissão de harmonia: Chopp, Léo Brandão, Nilce Fran, Márcio Emerson, Jorge Barbosa, Sérvolo Alves e Walter Moura.
1º Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Marlon Lamar e Lucinha Nobre
Coreógrafa do 1º casal: Camille Sales
Intérpretes: Gilsinho
Mestre de bateria: Nilo Sérgio
Rainha de bateria: Bianca Monteiro
Coreógrafos da comissão de frente: Sérgio Lobato
Diretor de barracão: Higor Machado
2º Casal: Yuri Souza e Camylla Nascimento
3º Casal: Emmanuel Lima e Rosilaine Queiroz
Responsável pela ala das baianas: Jane Carla.
Responsável pelos passistas: Valcir Pelé e Nilce Fran
1º Destaque: Carlos Reis
Coordenador de Destaques: Carlos Ribeiro
Ala de compositores Ary do Cavaco: Jane Garrido, Arlindão e Walter Alverca.
Departamento Feminino: Aldalea Rosa Negra da Portela
Galeria da Velha Guarda: Roberto CamargoSamba-enredo
Compositores: Samir Trindade, Élson Ramires, Neyzinho do Cavaco, Paulo Lopita 77, Beto Rocha, J. Salles e GirãoVamos simbora povo vencedor
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Sou nordestino, estrangeiro, versador
Eh, eh, eh, viola...
Vem do arrecife, oio azul, cabra de peste
No doce do meu agreste, querendo se lambuzar
Oi o mar, maré de saudade, oi o mar
Pedindo paz a Javé, perseguido na fé
O imigrante veio trabaiá
Oh, saudade que vai na maré
Passa o tempo e não passa a dor
E um dia Pernambuco o português reconquistou
Luar no sertão, ilumina...
Pra quem deixou esse chão, triste sinaÔ, cumpadi, em seu peito leva um dó
Cada um em seu destino e a tristeza dá um nó
Vixi Maria, lá no meio do caminho
Tem pirata no navio
O pagamento não foi ouro nem foi prata
Essa gente aperriada foi seguindo
Ô gira ciranda, vai a chuva vem o sol, deixa cirandarChega criança homi, muié
No abraço dessa terra só não fica quem não querÉ legado, é união, é presente, igualdade
É “Noviórque”, pedestal da liberdade
A minha águia em poesia de cordel22 vezes minha estrela lá no céu
Lá vem Portela, é melhor se segurarCoração aberto, quem quiser pode chegar
Vem irmanar a vida inteira
Na campeã das campeãs em Madureira
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