-
-
2013
Assim como em 2012, o samba-enredo da Portela era uma das grandes apostas para o Carnaval de 2013. Assim como em 2012, nossa escola teve seu pré-carnaval marcado pelo atraso na confecção das fantasias e dos carros alegóricos.
A Portela foi a última escola a desfilar no domingo de Carnaval. Sua comissão de frente continha um "Trem de Luxo" como elemento alegórico principal que convidava a plateia para uma visita ao bairro de Madureira junto com baluartes históricos da escola, caricaturados nas janelas do trem. Durante a apresentação da comissão, destaca-se a performance do ator Jorge Fernando, como o cicerone do teatro de revista, e de Valci Pelé e Nilce Fran como as grandes estrelas da companhia. Era, na verdade, uma homenagem à Zaquia Jorge, grande vedete que encantava o subúrbio da central.
"Tempo rodou na roda do trem e veio"
No desenvolvimento elaborado pelo carnavalesco Paulo Menezes, o enredo trazia Paulinho da Viola como fio condutor e o mote foi iniciar o desfile voltando no tempo, até o ano de 1970, ano em que a Portela sagrou-se pela última vez, sozinha, campeã do carnaval carioca. O mini-desfile de 70 seguiu com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Robson e Ana Paulo, que, experientes, se apresentaram com sobriedade para os jurados. O carro abre-alas veio com motivos indígenas para lembra "Lendas e mistérios da Amazônia". Nossa tradicional águia não agradou a grande parte do público, parte pela execução, parte pelo projeto em si. O fato é que ela estava aquém da expectativa dos portelenses e sambistas presentes na Marquês de Sapucaí naquele primeiro dia de desfile do Grupo Especial.
A partir daí, o enredo reforçou a origem rural da região de Madureira, antes da chegada da linha férrea: os engenhos, o trabalho escravo, as pessoas do lugar, o sino da capela, a folia de reis, o batuque, o jongo, os pretos-velhos...
"Bate o sino da capela
Ôi. que é dia de santo, sinhá
Tem mironga de jongueiro
O tambor me chamou pra dançar"As tradicionais baianas da Portela homenagearam Dona Esther, mãe de santo famosa da região que viveu na região de Oswaldo Cruz, bairro de origem da Portela, no início do século XX e que realizava grandes festas em seu terreiro recebendo portelenses e importantes artistas como o cantor Roberto Silva, entre outros.
A religiosidade africana de Madureira também ficou explícita com a Tabajara do Samba que, numa licença às cores da escola, veio vestida de vermelho-e-branco para homenagear Zé-Pilintra. E novamente, a cadência e precisão foram um espetáculo a parte a ponto de render o segundo Estandarte de Ouro em três anos. Em sintonia com a bateria, vestindo a mesma fantasia, a Portela trouxe Ala dos Malandros que arrancava aplausos do público por onde passava.
"O "Madura" pisou no gramado
O malandro do charme dançou
No pagode com outro gingado
Quando o bloco chegou
Agitou o suingue do black
E a nega baiana girou"
Elementos marcantes de Madureira também foram lembrados. No quarto carro, veio o Mercadão de Madureira, grande mercado atacadista que atrai pessoas de toda a região metropolitana do Rio de Janeiro em busca de preços baixos. No Mercadão, você encontra tudo! Outro destaque foi feito à força urbana de Madureira. Em seu quinto carro, a Portela levou todo clima black do baile chame do viaduto com seus globos espelhados e raios de luz insinuantes. Ainda no ambiente do viaduto, teve o movimento do hip-hop com a arte do grafite e o basquetebol de rua que, brincalhão, trazia uma partida em que a Águia vencia o Pavão por 21 a 3.
E por falar em samba, as duas potências da região, naturalmente, também estavam no enredo. Deixando a rivalidade de lado, a Portela homenageou o Império Serrano em seu sexto carro e abriu caminho para falar da Serrinha e do jeito suburbano: as brincadeiras infantis como a pipa, o pião, a bola de gude e o futebol. E por falar futebol, se segura que o Tricolor Suburbano vem aí! O Madureira não podia ficar de fora dessa.
O último carro trouxe a Velha Guarda da escola numa homenagem final à própria Portela numa remissão ao trem do início do desfile e ao Pagode do Trem, evento que ocorre na semana do Dia Nacional do Samba, organizado pelo portelense Marquinhos de Oswaldo Cruz, e inspirado no nosso professor Paulo da Portela.
A sensação final foi a de que faltou, assim como em 2012, um maior empenho da alta direção nos preparativos do Carnaval, sobretudo no que dependia de maior investimento em fantasias e alegorias. De novo, o componente da escola levado pelo excelente samba rendeu à escola um bom "desfile de chão". Contudo, diferente de 2012, a garra portelense não foi suficiente para que a escola voltasse ao desfile das campeãs. A Portela ficou em sétimo lugar com 296,8 pontos.Autor: Vanderson Lopes.
SINOPSE DO ENREDO:
Rio de Janeiro, 1970.
Avenida Presidente Vargas.
"Nesta Avenida colorida a Portela faz seu carnaval..."
Com o rosto molhado de suor e lágrimas, vejo a minha Escola conquistar a plateia com mais um desfile. Agora com um sabor especial, se aquecendo... "senti meu coração apressado, todo o meu corpo tomado, minha alegria voltar..."
E então pensei:
"Meu coração tem mania de amor..." E que amor é esse que me conquista a cada dia? Que amor é esse que move toda essa gente? De onde vem isso tudo e como essa história começou?
E é isso que vou descobrir.
E assim, com a alma aquecida de emoções, lá fui eu para Madureira, de trem, cantando samba, assim como Paulo Benjamin fazia décadas atrás.
"Eu canto samba
Porque só assim eu me sinto contente
Eu vou ao samba
Porque longe dele eu não posso viver..."
Quero trilhar os caminhos desse povo, como um "peregrino", descobrir sua gente, sua cultura, sua fé, o seu canto e o seu samba.
Descobrir sua história.
Pisar onde outrora pisaram tropeiros, escravos, boiadeiros, mercadores e imperadores, caminhos de trabalho e suor, onde antes só se viam fazendas, engenhos e fé, afinal toda essa história começa pela fé.
E o povo dança, o povo canta; dança o branco, dança o negro.
"Pisei na pedra
A pedra balanceou
Levanta meu povo
Cativeiro se acabou"
Negros fugidos, negros forros. Festa, jejum e esmola. Samba, dança, música e religião. Enfrentar a dor através da arte.
Casas de umbanda e casas de candomblé, liderança e mistério, atraindo a atenção para a "roça".
Caminhos de terra, caminhos de ferro.
E o povo vai chegando, de tudo quanto é direção. Imigrantes de dentro e de fora. Os caminhos viram estradas.
Estradas de terra, estradas de ferro.
Chega o progresso e com ele os ambulantes, que depois viram mercadinhos, os mercadinhos viram mercados e os mercados viram mercadões.
E eu... vou seguindo meu caminho.
Vou ouvindo batuques, ritmos e sons. Sons sincronizados, parecendo sapateado. Mas são apenas sons de pés, que dançam, chutam e pulam. Pés que vão construindo outros caminhos. Não importa se num tablado, no asfalto ou na grama, o importante é a ginga, que por vezes me lembra a de um malandro. Como tantos que esta história construiu. Ou como tantos que aqui chegaram para construir outras histórias. Malandros loiros, brancos, mulatos, sararás, crioulos. Assim como as músicas, loiras, brancas, mulatas, sararás e crioulas, ou como se diz agora: black.
"No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança"
E o batuque continua.
Marchinhas, mascarados, coretos, baianas, blocos de sujo, carnaval...
São os caminhos da folia! Caminhos da fantasia, onde cada um é o que deseja ser, onde mulher pode virar homem e homem, virar mulher. E é através da fantasia, do sonho, que nascem duas das maiores Escolas de Samba da história.
E que orgulho hoje ver Portela e Império, juntas, a cantar que esse nosso lugar "que é eterno no meu coração. E aos poetas traz inspiração pra cantar e escrever".
Madureira é assim. Amor, atividade intensa, vivida com orgulho suburbano, lugar de morada da altiva nobreza popular, pois aqui reside a Majestade do Samba.
"Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar..."
Tantos são os caminhos, e por eles vou atrás de suas histórias, me sentindo cada vez mais parte integrante dela, deste lugar e destes caminhos, que hoje se encontram mais uma vez, afinal...
Sou Paulo, sou Paulinho, da Viola e da Portela.
E tenho muito orgulho em contar esta história para vocês, afinal... "o meu coração se deixou levar."
E, agora, o mesmo trem que me trouxe, me leva de volta, e continuo batucando, não mais como Paulo Benjamin fazia, mas como todos os Portelenses continuam fazendo ainda hoje, preservando a sua memória e o seu lugar, que eternamente será conhecido como a "Capital do Samba".
"Madureiraaa, lá lá laiá."
Paulinho da Viola, pelas mãos de Paulo Menezes (e mais uma vez os caminhos se cruzam).
Este enredo é dedicado aos noventa anos da Portela e a todos os portelenses que, infelizmente, não estão mais entre nós, mas que continuam abençoando a Portela lá de cima, do Olimpo dos sambistas.
Enredo e pesquisa: Paulo Menezes e Carlos MonteFICHA TÉCNICA DO DESFILE DA PORTELA:
Data do desfile: 10 de fevereiro de 2013 (domingo de Carnaval)
Ordem de Desfile: 6ª Escola (última)
Horário de desfile (previsão de início): 04h e 04h30min
Carnavalesco: Paulo Menezes
Presidente: Nilo Mendes Figueiredo
Direção de carnaval: Junior Escafura e Alex Fab
Direção Geral de Harmonia: Marcelo Jacob
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Robson e Ana Paula
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Jeferson e Karla
3º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diego Fran e RoselaneVice-presidente de Bateria: Mestre Nilo Sérgio
Vice-presidente da Ala das Baianas: Jane Carla
Coordenadora da Ala das Damas: Dona DodôCoordenadora da Ala de Passistas: Nilce Fran
Intérprete: Gilsinho
Coreógrafo da Comissão de Frente: Marcio Moura
1o. Destaque: Carlos Reis
Rainha de Bateria: Patrícia NerySAMBA-ENREDO:
Compositores: Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, André do Posto 7 e Toninho Nascimento
E lá vou eu cantando com minha viola
O amor tem seus mistérios
Por onde me deixo levar
Laiá
Nossa história começa por lá
No engenho da fazenda
Dos cantos de "canaviá"Bate o sino da capela
Ôi. que é dia de santo, sinhá
Tem mironga de jongueiro
O tambor me chamou pra dançarTempo rodou na roda do trem e veio
A inspiração do partideiro
Que versou no Mercadão
Foi nesse chão
Que a estrela brilhou no tablado
O "Madura" pisou no gramado
O malandro do charme dançou
No pagode com outro gingado
Quando o bloco chegou
Agitou o suingue do black
E a nega baiana girouCai na folia, comigo, meu bem vem na fé
Na ilusão da fantasia
Vai como pode quem querSurgiu a coroa imperial
Em outros caminhos para o mesmo ritual
Portela, meu orgulho suburbano
Traz os poetas soberanos nesse trem para cantar
Que Madureira é muito mais do que um lugar
É a capital do samba que me faz sonharAbre a roda, chegou Madureira!
A poeira já vai levantar
O batuque ginga ioiô
Ginga Iaiá
Fonte: Portela Web
-