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2004
Em 2004, a Liga Independente das Escolas de Samba sugeriu que, em comemoração aos seus 20 anos de existência, suas associadas reeditassem sambas famosos.
Ao fim de muitas negociações, somente quatro escolas aceitaram o desafio de reler sambas de sucesso: Império Serrano, Tradição (com um samba da Portela), Unidos do Viradouro e Portela.
A Portela optou por reeditar o samba que lhe dera o último campeonato isolado: "Lendas e Mistérios da Amazônia", de Catoni, Jabolô e Valtenir. O samba havia sido originalmente apresentado no carnaval de 1970.
A escola também estreava um novo carnavalesco, Jorge Freitas, ex-Unidos de Vila Isabel e que havia feito uma carreira de sucesso no carnaval de São Paulo. Ele chegou para substituir Alexandre Louzada, que havia se afastado logo após o carnaval de 2003 devido a divergências com a diretoria.
Jorge Freitas optou por extrapolar as lendas retratadas no samba, devido às características modernas do desfile: das três do enredo original, o carnavalesco optou por sete lendas, que compuseram os setores da escola:
1) Lenda do Eldorado;
2) Sol e Lua;
3) Vitória-régia;
4) Reino da Cobra Grande;
5) Amazonas - Índias Guerreiras;
6) A lenda do boto;
7) Uirapuru.Sendo a Portela a última escola a desfilar no domingo de carnaval, o carnavalesco optou por fantasias coloridas e que aproveitassem os raios de sol. A agremiação desfilou com 35 alas, sete alegorias e aproximadamente 3.800 componentes.
Destaque-se o trabalho com as Alas de Comunidade, que para esse ano tiveram seu número ampliado a fim de garantir um bom desempenho à escola em harmonia e evolução.
O período pré-carnavalesco foi agitado, com ensaios conjuntos por parte das escolas que fariam reedição de sambas. Destaque para o show dado pela bateria no ensaio realizado no Império Serrano.
Outra grande novidade que a Portela trouxe foi a efetivação de Dona Dodô, a primeira porta- bandeira da escola, como madrinha de bateria. Mais uma vez, era a Portela demonstrando seu pioneirismo no mundo do samba.
A 40 dias do carnaval, um percalço: o mestre de bateria Carlinhos Catanha foi afastado da escola, em virtude de desentendimentos com a diretoria relacionados ao naipe de tamborins. Em seu lugar retornou Mestre Mug, que modificou tanto a distribuição das peças quanto o quadro componente da bateria.
A escola desfilou já no alvorecer da segunda-feira de carnaval, 22 de fevereiro. A Comissão de Frente, representando os fenícios, mostrava quão colorido seria o desfile. A águia, em tons de dourado, representando o Eldorado, serenamente contemplava a passarela e anunciava o desfile da Portela, em busca de seu 22º campeonato.
O samba, interpretado por Gera, proporcionou um excelente canto do componente e um bom trabalho de evolução e harmonia. Não houve esquenta da bateria, entrando direto no samba oficial da escola.
A bateria de Mestre Mug acompanhou o samba com a cadência e o peso peculiares. Por decisão da diretoria da escola, foi dado maior destaque à chamada "cozinha" da bateria. Dona Dodô estava soberana em seu vestido azul, representando toda a tradição da Portela.
Os carros da lua chorando e do boto se destacavam no conjunto alegórico da escola. A Velha Guarda estava soberana no último carro; outras alegorias traziam a representação das lendas objeto do enredo, como a da Cobra Grande e a da Vitória-régia.
O mestre-sala Fabrício e a porta-bandeira Christiane Caldas evoluíam no terceiro setor da escola.
A Portela foi muito bem recebida pelo público, que vibrou com a passagem da escola. Entretanto, na abertura dos envelopes, ela conquistou apenas o sétimo lugar, com 384,9 pontos. A Beija Flor conquistou o bicampeonato com 388,7.
Contudo, o que aquela quarta-feira de Cinzas não revelava é que o carnaval de 2004 portelense marcaria o final de uma era. O presidente Carlinhos Maracanã decidiu se afastar da escola e, em uma eleição muito conturbada, o candidato de oposição, Nilo Figueiredo, conquistou a presidência, por 131 votos a 118. Terminava desta forma uma era de 34 anos de poder na agremiação.Fonte: Portela Web
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