1997

Nos anos 30, no início dos desfiles das escolas de samba, as homenagens a personalidades e fatos históricos eram coisas comuns em seus enredos. De lá até a década de 90, homenagens a estados e cidades eram raras, e quando feitas eram em nome da importância histórica de alguma localidade.

As escolas, ao chegarem os anos 90, passaram por diversas transformações. O desfile tornou-se algo tão grandioso que, cada vez mais, necessita de uma grande quantia financeira para ser elaborado. As escolas descobriram então que seus enredos poderiam representar um retorno financeiro para elas.

Seguindo esta linha, a Portela escolheu como tema do seu carnaval em 1997 a cidade de Olinda. Uma cidade pernambucana fundada na época colonial, com um passado extremamente rico na história brasileira, além de promover todos os anos um dos maiores carnavais populares do país. São milhares de foliões que sobem e descem suas ladeiras no período momesco atrás das centenas de blocos que por lá circulam.

No início do ano, uma equipe da escola, formada por Paulo Miranda, um historiador e o carnavalesco da escola Ilvamar Magalhães, visitou a cidade, para iniciar as pesquisas de montagem do enredo. A notícia divulgada pela imprensa deixou os pernambucanos felizes e cheios de expectativa, pois era a primeira vez que uma cidade pernambucana seria homenageada por uma escola de samba do Rio de Janeiro.

Durante todo o ano, a imprensa pernambucana trazia diversas matérias relativas ao desfile, e na escolha do samba-enredo da escola dois pernambucanos foram levados para fazer parte da comissão julgadora.

O governador de Pernambuco, Miguel Arraes, colaborou para o desfile da Portela com uma verba de R$150.000,00. E sua visita ao barracão da escola, acompanhado do então secretário de cultura do Estado, o escritor Ariano Suassuna, ganhou destaque em todos os jornais e revistas de circulação nacional.

Em retribuição à homenagem da Portela, a comissão de carnaval da cidade decidiu que sua decoração seria feita nas cores azul e branca. O samba enredo tornou-se uma das músicas mais tocadas nas rádios do Estado. Um clima de ansiedade tomou conta dos pernambucanos. No dia do desfile a Prefeitura da cidade instalou dois grandes telões na sua sede, onde os foliões que circulavam pelas ladeiras de Olinda acompanhavam o desfile da escola.

O carnavalesco Ilvamar Magalhães levou para a avenida vários momentos da história de Olinda: a chegada dos portugueses, a beleza da natureza que encontraram aqui, a invasão dos holandeses, a escolha da cidade como patrimônio da Humanidade. A riqueza cultural da cidade também não ficou esquecida: pastoril, quadrilhas, cirandas, maracatu e suas diversas agremiações carnavalescas foram lembradas no desfile. Para encerrar, réplicas dos famosos bonecos gigantes do carnaval de Olinda, com o último carro da escola trazendo vários pernambucanos. No carro estava também o cantor Ricky Martin.

Infelizmente alguns problemas técnicos prejudicaram o desfile da escola. Logo no início, a águia, símbolo maior da Portela, quebrou uma das patas, deixando os torcedores apreensivos. Além disso, a quantidade de pessoas desfilando sem fantasias, apenas com camisas da escola, foi impressionante, atrapalhando demais a evolução da escola. Cantando Olinda a Portela conseguiu apenas o oitavo lugar. O desfile valeu pela homenagem prestada a uma cidade onde o carnaval popular ainda resiste bravamente

Ficha técnica:

Resultado: 8ª Colocada do Grupo Especial, com 174,5 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 6ª Escola de 10/02/97, Segunda-Feira, Av. Marquês de Sapucaí (Passarela do Samba)
Carnavalesco: Ilvamar Magalhães
Presidente: Luís Carlos Escafura
Diretor de Carnaval: Paulo Miranda
Diretor de Harmonia: Djalma Vieira Silva
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Babi e Alexandre
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Gisele e Dionísio
Bateria: 300 Componentes sob o comando de Mestre Paulinho Botelho
Contigente: 4500 Componentes em 42 alas

Samba enredo:
autores: Doutor, Renato Valle, Tonico da Portela e Eli Penteado

Um paraíso secular
Novo mundo vou mostrar
Majestosa e tão bela
Vim brilhar na passarela
Oh! Linda eterna Portela
Nas ladeiras poesia
Seu ouro branco e coqueirais
Bordada pelo mar
Ninguém esquecerá
Seu folclore popular

Vou invadir seu coração, Olinda
Encantando esta nação, tão linda
Acervo de beleza natural
Olinda, patrimônio mundial

Vou viajando assim
No frevo e maracatu
Ciranda e serenata
Vejam!
Como é lindo seu carnaval
Quarta-feira de cinzas
Vou sair no bacalhau

E a Portela
Mostra como é linda
Oh! Linda, Olinda