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1995
"Abram alas, deixa a Portela passar
É voz que não se cala, é canto de alegria no ar"Se existe uma pessoa cuja imagem personifica a dignidade portelense, esta pessoa é Paulinho da Viola. Quase vinte anos depois, Paulinho desfilaria novamente com a Portela. Pela primeira vez, "Foi um Rio que Passou em Minha Vida" ecoou antes de um desfile da Portela no Sambódromo.
A volta de Paulinho já era suficiente para resgatar a confiança dos portelenses, mas as novidades da escola para 1995 não pararam por aí. Mais portelenses desgarrados voltavam para o ninho, como a passista Nega Pelé, que tomava o lugar de madrinha de bateria, durante anos ocupado pela modelo Luiza Brunet, e o compositor Noca, autor do lindo samba que a Portela apresentaria no desfile, em parceria com Colombo e Gelson.Durante os ensaios, a escola demonstrava sua disposição. No barracão, perfeição nas alegorias. As fantasias descreviam com luxo e bom gosto cada aspecto do enredo "Gosto que me enrosco", do carnavalesco José Félix. O ambiente nunca esteve tão favorável para, finalmente, a escola reconquistar o tão sonhado título. A Portela contaria a história do carnaval no Brasil, herança portuguesa que recebeu influência dos demais povos que formaram nossa nação.
Assim, a Portela se preparava para entrar na avenida no domingo de carnaval. Na concentração, a certeza de que o triunfo era possível e só dependia da garra dos portelenses. Para interpretar o belo samba, um time de peso, composto por Rixxa, Carlinhos de Pilares, Rogerinho, Dedé da Portela e Celino Dias.
"Bate o bumbo, lá vem Zé Pereira
E faz Madureira de novo sonhar"E quando Rixxa começou a entoar os primeiros acordes, o setor 1 começou a cantar. As primeiras alas pisaram firme na avenida, e um brilho especial, o brilho dos grandes desfiles, se fazia presente naquele momento.
A Águia, com um guizo no bico, estava serena, contemplando o público, como se observasse a alegria das arquibancadas. A comissão de frente, coreografada por Jerônimo, representava personagens tradicionais do carnaval, mais especificamente o famoso triângulo amoroso entre o Pierrot, a Colombina e o Arlequim.
Na magia daquele momento, seguia-se o carro referente ao que é considerado por muitos o primeiro carnaval do Brasil, que foi a festa organizada para comemorar a coroação de D. João IV e a restauração do trono português.
A noite, que presenciou a entrada da escola na avenida, aos poucos foi dando lugar para o dia, como se toda a natureza quisesse presenciar aquele momento. O entrudo, herança portuguesa que marcou os carnavais dos séculos XVIII e XIX, primeira manifestação verdadeiramente carnavalesca, vinha representado no terceiro carro, que espalhava o perfume de limão-de-cheiro pelo Sambódromo.
Seguiam-se no maravilhoso espetáculo os primeiros bailes de máscara do século XIX, as burrinhas, o tradicional Zé Pereira, que arrastava a galera batendo seu bumbo, os índios e os blocos. As transformações do carnaval seguiam com as Grandes Sociedades e os Ranchos, importantes manifestações populares do Rio de Janeiro.
A bateria representava os carnavais de todos os tempos, e no seu comando estreava Mestre Mug, responsável maior pelo impecável desempenho da Tabaraja do Samba. Nega Pelé brilhava, sambando como nos velhos tempos. Era a tradição portelense de volta à avenida.
"Praça Onze, berço das nossas fantasias
Deixa Falar deixou no peito a nostalgia"A influência africana também não poderia faltar, e estava representada num belo carro representando a coroação do Rei Congo. Estavam lá os corsos e seus luxuosos desfiles pela antiga Avenida Central; os bailes do Municipal, representados num carro que tinha Clóvis Bornay como destaque principal.
E a história do nosso carnaval seguia, como uma metáfora da própria cidade. A eterna rivalidade entre o Bafo da Onça e o Cacique de Ramos. Briga certa quando se encontravam no bonde. Ali, naquele momento, tudo era paz.
As baianas, numa bela fantasia dourada e branca, que representava os carnavais tradicionais, vinham no final da escola, à frente do último carro, que prestava homenagem a nossas escolas. E para essa homenagem ser completa, nada melhor que nossa velha guarda. Manacéa lá estava, em seu último desfile pela Portela. Como presença ilustre, destacava-se Dona Zica da Mangueira, outra figura extremamente representativa das nossas escolas.
No fim do desfile, a festa do público na Praça da Apoteose não deixava dúvida de que a Portela era a principal candidata ao título. Favoritismo que foi reforçado pela conquista do Estandarte de Ouro de melhor escola, juntamente com os de melhor samba-enredo e de melhor puxador, para Rixxa.
Os jornais confirmavam o favoritismo da Portela e destacavam também o belo desfile feito pela Mocidade, considerada a única escola capaz de tirar da Portela o título tão esperado.
Contudo, a apuração deixou claro que a principal adversária da Portela seria a Imperatriz. A acirrada disputa começou a pender mais para a escola de Ramos quando a Portela tirou duas notas 9,5 em evolução, o que impediu o descarte de uma delas, ao contrário da Imperatriz, que teve todos os seus pontos perdidos descartados.
No fim, a Portela perderia o campeonato por meio ponto. Meio ponto é meia lágrima no rosto do velho sambista, é meia batida de dor no surdo do ritmista. A tristeza inicial logo deu lugar à alegria pela volta do orgulho portelense, orgulho que há alguns anos estava esquecido.
A consagração viria no desfile das campeãs, quando a Portela entrou na avenida sob gritos de "É Campeã !". O público aclamou a Portela como a campeã popular, um título que, embora não entre para a história, é muitas vezes mais significativo que o resultado oficial.
"Dos bondes ficou a saudade
Ah! Que saudade do luxo das Sociedades"Ficha técnica:
Resultado: 2ª Colocada do Grupo Especial, com 299,5 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 8ª Escola de 26/02/95, Domingo, Av. Marquês de Sapucaí (Passarela do Samba )
Carnavalesco: José Félix
Presidente: Luís Carlos Scafura
Diretor de Carnaval: Paulo Miranda e Tijolo
Diretor de Harmonia: Djalma Vieira Silva
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Andréia Machado e Jerônimo
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Andréa e Marcelo
Bateria: 305 Componentes sob o comando de Mestre Mug da Portela
Contigente: ........ componentes em 42 AlasSamba enredo:
autores: Noca da Portela, Colombo e GelsonÉ carnaval
O Rio abre as portas pra folia
É tempo de sambar
Mostrar ao mundo a nossa alegria
Veio bailando pelo mar
E de lá pra cá nasceu essa magia
Samba, que me faz feliz
Em sua raiz tem arte e poesia
Bate o bumbo, lá vem Zé Pereira
E faz Madureira de novo sonhar
A Portela não é brincadeira
Sacode a poeira, faz o povo delirarGosto que me enrosco de você, amor
Me joga seu perfume, hoje eu tô que tôPraça Onze, berço das nossas fantasias
Deixa Falar deixou no peito a nostalgia
Dos ranchos, blocos e cordões
Dos mascarados nos salões
Pierrot beijando a Colombina
Chuva de confete e serpentina
Dos bondes ficou a saudade
Ah! Que saudade do luxo das SociedadesAbram alas, deixa a Portela passar
É voz que não se cala
É canto de alegria no ar
Fonte: Portela Web
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