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1994
José Félix estréia e propõe contar a história do samba, desde os ritmos africanos, passando pela sua mistura com outros gêneros e ritmos, até chegar à música que se tornou referência carioca e identidade nacional. Sua intenção foi abordar essa história, chegando à década de 40, iniciando, assim, a trilogia que iria ser concluída em 1996.
A grande mudança ocorrida nesse ano aconteceu, justamente, no cartão de apresentação da escola - a comissão de frente. Em decorrência de já não obter nota máxima nesse quesito e das críticas que consideravam ultrapassada a presença da Velha Guarda, a Portela trouxe uma comissão coreografada por Jerônimo, com sete homens e sete mulheres negros, representando os dançarinos de lundu (dança que chegou ao Brasil com os escravos), resgatando o que teria sido a origem dos passos do samba e apresentando a grande Águia, que trazia um chapéu de malandro, sob a guarda dos destaques Vanda Batista e Pedrinho Martins, ricamente fantasiados, também, de Águias Reais.
Última escola a entrar na avenida, já na manhã de terça-feira, a Portela desenvolveu seu enredo a partir da chegada dos africanos como escravos (nobres, sobas, bantos angolanos, príncipes e princesas), sua utilização na cultura da cana-de-açúcar, suas danças e ritmos nos quilombos e nas senzalas, nos cortiços, nos morros, na Praça XI, no Estácio, em Osvaldo Cruz e Madureira. Ao mesmo tempo, contou-se a própria transformação da cidade-sede do Império em metrópole republicana à européia. A história da música e da dança dos mulatos e negros alforriados, entregues à sorte analfabetos ou semi-letrados, sem trabalho, sem qualificação, e, também, da sua lenta e gradual penetração nos salões da elite urbana, especialmente após a gravação do primeiro samba "Pelo Telefone". Desfilaram, também, tipos de época, como malandros, almofadinhas, melindrosas, dançarinos de gafieira - da Cia. de Dança Carlinhos de Jesus.
O último setor, denominado Berço de Emoções, homenageava a Portela, que completara 70 anos em abril do ano anterior, e suas raízes, com o Conjunto Carnavalesco Escola de Samba Osvaldo Cruz, Vai Como Pode, baianas, pierrôs apaixonados, colombinas sonhadoras, arlequins e clóvis, típica fantasia dos subúrbios cariocas.
Os 4.200 componentes, distribuídos em 36 alas, cantaram o bonito samba de Wilson Cruz, Cláudio Russo e Zé Luiz. A bateria, sob o comando de Mestre Timbó, entrou forte na avenida e teve como destaque a forte marcação dos surdos, especialmente os de 3ª, característica da batida da Tabajara do Samba. O casal foi formado por Jerônimo - que retornava, assim, em novo posto, após ter recebido o Estandarte de Ouro de melhor Mestre-Sala pela Imperatriz, no ano anterior - e Neide. Outro destaque foram as fantasias idealizadas por Félix, coloridas e leves, com a utilização de estampas, padronagens, capas, tecidos diversos - desde os mais rústicos até os mais finos, sem abrir mão do luxo e do bom gosto característicos da Portela.
Infelizmente, dos dez carros previstos para contar o enredo, dois não entraram na avenida, quebrados ainda na concentração, o que acabou por influenciar o julgamento do desfile. A Portela ficou em 7º lugar.
Ficha técnica:
Resultado: 7ª Colocada do Grupo Especial, com 290,5 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 8ª Escola de 14/02/94, Segunda-Feira, Av. Marquês de Sapucaí (Passarela do Samba)
Carnavalesco: José Félix
Presidente: Paulo Miranda
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Jerônimo e Neide
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:
Bateria: Mestre Timbó
Contigente: 4.200 componentes em 36 alasSamba enredo:
autores: Wilson Cruz, Cláudio Russo, Zé LuizÁfrica encanto e magia
Berço da sabedoria
Razão do meu cantar
Nasceu a liberdade a ferro e fogo
A Mãe Negra abriu o jogo
Fez o povo delirar
Deixa falar, ô, ô, ô
Deixa falar, ô, iaiá
Esse batuque gostoso não pode parar
Entra na roda ioiô
Entra na roda iaiá
Lá vem Portela é melhor se segurarAxé vem de Luanda
Sacode negritude da cidade
Trazendo a bandeira do samba
N'apoteose da felicidadeSamba é nó na madeira
É moleque mestiço
Foi preciso bancar
Resistência que a força não calou
Arte de improvisarCapoeira
O samba vai levantar poeira
Tem zoeira
Em Oswaldo Cruz e Madureira
Fonte: Portela Web
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