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1992
Quem poderia imaginar que a cor dominante no pavilhão poderia ser um bom tema para o carnaval? Traduzindo com rara felicidade esta idéia na letra, o trio de compositores campeões no ano anterior, Carlinhos Madureira, Café da Portela e Hiran Silva, fez uma verdadeira profissão de fé e um sofisticado exercício de metalinguagem ao declarar "Encontrei no pavilhão da minha escola a beleza mais notória pro meu visual, é, pois é..." Pois é... nada mais óbvio, nada mais original. Pois Sílvio Cunha, em seu último ano assinando um enredo para a Portela, fez a sua profissão de fé e vestiu os portelenses com todo o azul e o brilho a que a família portelense teve direito.
O tema-enredo se desenvolveu a partir dos seguintes setores:
- O azul do céu;
- O azul do mar;
- O azul da natureza;
- O azul da morada dos deuses;
- O azul da nobreza;
- O azul dos poetas;
- O azul da Portela.Mais uma vez, a comissão de frente, com a mesma formação do ano anterior e elegantemente vestida de fraque e cartola, nas cores azul "portelense" e branco, foi o grande destaque, saudando o público e abrindo passagem para a Águia, também em azul e branco, protegida pelo "Xá da Pérsia" Pedrinho Martins e a sua "Imperatriz" Wanda Batista, primeiros destaques da escola. Para representar o azul do céu, vieram os astronautas e uma "chuva" de estrelas, representada pela Ala dos Acadêmicos da Portela. Marinheiros, peixes, estrelas e ouriços inundaram a avenida com os diversos tons do azul do mar.
E foi possível lembrar que o azul se faz presente além do céu e do mar. No ar e na terra, o azul explode exuberante - nas borboletas, nas araras, nos azulões - claro - e nas safiras, emolduradas e aneladas pelo ouro e pela prata.
E para provar que o azul é divinal, um breve retorno ao Olimpo e o sonho azul de voar de Ícaro, desafiando a ira dos deuses em sua morada, e ao Oriente, berço dos nobres puros e dos azulejos e mosaicos. E era de sangue azul que estava vestida a bateria, sob o comando de Mestre Timbó.
E o que seria da poesia sem o azul? E a poesia se fez música, arte e literatura: os poetas, o "Danúbio Azul", a fase Azul do pintor Picasso, os cavalinhos azuis de Maria Clara Machado. E para espantar a tristeza, um bilhete azul.
Anunciando o mais belo azul - o azul da Portela -, as baianas-lavadeiras, com suas trouxinhas de anil que tornam o branco mais branco, quarando ao sol, as damas e suas sombrinhas e a Velha Guarda: era a Portela de novo, ressurgindo antiga e como novidade, especialmente, para quem não pôde ter tido a glória de ver o seu passado de glória, traduzido à formação de uma escola de samba até a década de 40 - índios, caramanchão, baianinhas, bateria e cavaquinhos. Iluminado, e sob a invocação de Natal, Clara Nunes e Elizeth Cardoso, falecida no ano anterior, todos representados no último carro, um céu portelense se abria ao povo, tomado de emoção, na avenida cantando.
No ano em que, até a sua entrada, não havia iluminação, a Portela obteve o 5º lugar.
Ficha técnica:
Resultado: 5ª Colocada do Grupo Especial, com 292,5 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 7ª Escola de 02/03/92, Segunda-Feira, Av. Marquês de Sapucaí (Passarela do Samba)
Carnavalesco: Sílvio Cunha
Presidente: Carlos Teixeira Martins
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:
Bateria: Mestre Timbó
Contigente:Samba enredo:
autores: Carlinhos Madureira, Café da Portela e Ary do CavacoEncontrei no pavilhão da minha Escola
A beleza mais notória pro meu visual
Tá nas cores da bandeira do meu país
Tá no espaço sideral
Não esquente a cabeça
Tá tudo azul, tudo legalOlha nós aí de novo
Com a Portela azulando o seu astralÉ dos deuses, é divinal
Vem da Pérsia tradicionalQuero a alegria de um azulão
Sobrevoando o lindo azul do mar
Dei bilhete azul para a tristeza
Amor vem comigo sambar
Oh! Estrela, soberana triunfal
Cor de pedra preciosa
Traz a nobreza para o carnavalQue saudade, que felicidade
Novamente encontrar
Eu sou o rio que passou em sua vida
Tem corações se deixando levar
Fonte: Portela Web
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