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1982
A cada ano que passava, os desfiles das escolas de samba se tornavam mais concorridos e disputados. Para o carnaval de 1982, um grande tumulto ocorrido entre as pessoas que pretendiam comprar seu ingresso, que resultou em alguns feridos, ocupou as páginas de jornais nos dias que antecediam o desfile.
O regulamento trazia mudanças significativas, como a proibição de "pessoas vivas" sobre as alegorias e o limite máximo de três carros alegóricos. A Portela, ao contrário de outras agremiações que acabaram sendo punidas, cumpriu à risca a determinação da Riotur.
Não concordando com a forma de desfile que a diretoria pretendia, Viriato Ferreira, autor do enredo, afasta-se ainda nos preparativos para o carnaval, deixando o desenvolvimento a cargo da dupla Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo.
Num lindo amanhecer de carnaval, a Portela, oitava escola a se apresentar, invade a pista da Rua Marquês de Sapucaí. Sobre coloridos pandeiros, a Águia chega batendo asas e pedindo passagem. O público se acumulava em volta da pista, mas a envergadura das enormes asas do abre-alas acabaram abrindo caminho para que o restante da escola pudesse passar.
"Meu Brasil brasileiro" era uma grande exaltação ao folclore nacional, com maracatu, capoeira, seresteiros, toda a magia da Bahia, as tradições nordestinas, o bumba-meu-boi, o improviso de repentista, a arte ímpar da literatura de cordel. Toda a variedade cultural deste imenso país estava sendo retratada.
A Portela mostrava o "canto de nossa gente" e "fascinava" a avenida. "Espalhava pelo caminho" a alegria dos "meninos sonhadores". Se estamos falando de folclore, não poderiam faltar as escolas de samba. Átila e Eni, mestre-sala e porta-bandeira, numa linda fantasia branca, "giravam, como num conto de amor".
Pelo quarto ano consecutivo, a Portela cantava na avenida um samba de David Correa e, assim como no ano anterior, em parceria com Jorge Macedo. Talvez por isso, muitos percebiam certas semelhanças entre as duas composições, o que não tira o brilho da excelente obra, que daria a David a sexta vitória em disputas de samba na Portela, igualando-se a Candeia e Waldir 59.
E o samba foi um dos grandes trunfos que a Portela apresentou. Empolgante, fazia toda a arquibancada cantar junto com a escola, que trazia fantasias muito bem desenvolvidas. O azul e o branco predominavam.
Os 3 mil componentes foram embalados por uma atuação perfeita de sua bateria. A escola se apresentou no tempo certo, disciplinada, com garra, exibindo em suas alas e alegorias extrema beleza, visivelmente se destacando das demais concorrentes. Como destaques, Marlene, Elizeth Cardoso, como mucama do Maracatu, e Clara Nunes, como Baiana do candomblé.
Com o restrito número de alegorias, a Portela, assim como outras escolas, optou por levar pequenas alegorias de mão, o que muitos consideraram um retrocesso para as escolas de samba. No final da grande homenagem ao folclore do Brasil, e sobretudo ao povo brasileiro, as escolas vinham representadas em diversas bandeiras coloridas.
Na apuração, Portela e Império Serrano disputavam desde o início a primeira colocação. Contudo, a escola da Serrinha teve mais sorte e ficou com o campeonato, deixando a Portela com a segunda colocação.
Madureira sorriu. O povo saiu às ruas e comemorou o campeonato do Império Serrano e o vice da Portela. Os portelenses subiram a estrada do Portela e foram participar da festa imperiana. Um título, antes de tudo, conquistado por Madureira, eterna capital do samba. Uma festa enfeitada pelas cores verde, azul e branco.
Ficha técnica:
Resultado: 2ª Colocada do Grupo 1A, com 185 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 8ª Escola de 21/02/82, Domingo, Av. Marquês de Sapucaí
Autor do Enredo: Viriato Ferreira
Carnavalesco: Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo
Presidente: Carlos Teixeira Martins
Diretor de Harmonia: Nilton Batatinha
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Eni e Átila
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:
Bateria:
Contigente: 3.000 ComponentesSamba enredo:
autores: David Correa e Jorge MacedoVem me fascinar
Oh que sedução
O canto de minha gente
Assediando meu coração
Semente que a arte germinou
E o tempo temperou
Amor (ô amor)
Como é gostoso amar (amar)
Se a vida é contra-dança
O folclore é o parEspalhei no meu caminho (ô)
Olê, olê, olá (olê, olá)
Sou folclore, sou a brisa
Esta noite no meu verso
Vou lhe beijarNo meu país tudo é assim
A lua acende a poesia lá no céu (lá no céu)
Violeiro, repentista
Seresteiro e sambista
Desafiam em cordel
Sou namorado
Troco mágoas pela flor
Capoeira também chora
Quando perde o seu amorAmar eu sei
Isso é muito mais que amor
Eu sou amante
E sou menino sonhador
Das escolas de sambaMe leva, me leva
Me leva baiana que eu também vou
Mestre-sala e porta-bandeira
Girando num conto de amor
Fonte:Portela Web
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