-
-
1976
Depois de dois anos na Avenida Antônio Carlos, o desfile retornava para a Presidente Vargas, mas dessa vez próximo à Cidade Nova. Para o mundo do samba, especialmente entre os portelenses, o que marcava o carnaval era a ausência de Natal, o eterno líder, que falecera no ano anterior. Muito do sucesso da Portela se deve ao empenho de Natalino José do Nascimento, que com apenas um braço impôs respeito e engrandeceu não apenas a escola, mas toda a comunidade de Oswaldo Cruz e Madureira.
Na preparação para o carnaval, a diretoria tomou uma série de medidas para coibir o excesso de componentes que vinha atrapalhando as exibições da Portela, como acontecido especialmente no ano anterior. O número de componentes não ultrapassaria a marca de 2.400 pessoas. Alguns destaques, figuras constantes nas colunas sociais, foram substituídos por "gente de samba", como Pedrinho e Wanda Batista. Também foram tomadas medidas para organizar os ensaios de alas em dias apropriados.
Essas medidas foram exigência do departamento cultural, que no final de 1975 passara por problemas internos que motivaram a saída de alguns componentes, incluindo Candeia e Paulinho da Viola. O enredo idealizado chamava-se "O Homem do Pacoval", que narrava a história da Ilha de Marajó, desenvolvido por Hiram Araújo e Maurício de Assis, com barracão sob responsabilidade de Iarema e sua equipe.
O desfile começou às 20:15 hs com a Em Cima da Hora, que trazia para a avenida "Os Sertões", um dos maiores sambas de todos os tempos. Após uma série de cansativos desfiles, a Portela iniciava seu desfile apenas às 11:30 da manhã de segunda-feira.
Enquanto a Águia - com movimentos e trazendo entre suas garras a imagem do eterno Natal - despontava na Presidente Vargas, a escola, formada, se estendia sob o viaduto São Sebastião e chegava à Francisco Bicalho. Alberto Lonato, à frente, abria caminho e pedia passagem para sua agremiação.
Os portelenses demonstravam muita garra e vontade. Ao todo, o enredo era apresentado por 40 alas. A das crianças, comandada pelo passista Tijolo, cantava e sambava. Irene e Bagdá davam um show à parte. Tudo animado pela empolgante bateria de mestre Cinco.
Nas alegorias que se seguiram, a representação do Belzebu (Jurupari), a Deusa Iará e o estandarte das nações, que a Portela tirava dos componentes e trazia nos carros. Tudo utilizado para o explicar o enredo, musicado pelo chamado Trio "ABC", formado por Noca da Portela, Colombo e Edir. Era a primeira vez que a escola desfilava cantando um samba desses compositores.
As alegorias seguintes trouxeram as naus espanholas e portuguesas e as gaiolas, como era chamado o transporte marítimo usado na Ilha de Marajó. A cultura, a história e o folclore se misturavam na homenagem portelense.
Apesar da excelente evolução, a Portela foi prejudicada pela desorganização do desfile. A escola atravessou, assim como praticamente todas as demais agremiações.
Mesmo com os problemas, o belo desfile da Portela a credenciava ao título. As pretensões da escola eram respaldadas pelo Estandarte de Ouro, que premiava a Portela como melhor escola, e pelo júri da rede de televisão que cobria o desfile, que também apontava a escola de Oswaldo Cruz como favorita à conquista do campeonato.
Entretanto, o resultado oficial apontou como campeã a Beija-Flor, até então uma pequena escola do município de Nilópolis, com 122 pontos. O 2º lugar ficou com a Estação Primeira de Mangueira, com 116 pontos; e a Mocidade Independente de Padre Miguel, com 116 pontos, em terceiro. A Portela ficaria apenas com a quarta colocação, totalizando 108 pontos.
Das 14 escolas que participaram do interminável desfile de 1976, quatro acabaram rebaixadas para os grupos inferiores.
Ficha técnica:
Resultado: 4ª Colocada do Grupo 1, com 108 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 13ª Escola de 29/02/76, Domingo, Avenida Presidente Vargas
Carnavalesco(s): Hiran Araújo e Maurício Assis
Presidente: Carlos Teixeira Martins
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Irene e Bagdá
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:
Bateria: Mestre Cinco
Contigente: 2.400 Componentes em 40 AlasSamba enredo:
autores: Noca da Portela, Colombo e EdirVoando
Nas asas da poesia
A Portela em euforia
Vive um mundo de ilusão
E vem cantar
Os mistérios da Ilha de Marajó
Uma historia que fascina
Vem do alto da colina do Pacoval
Sob o poder de Atauã
O seu povo evoluindo
Nas crenças costumes e tradições
E o deus sol
Era figura de grandeza
A mãe Tanga a pureza
Era símbolo da vida dos AruãsBelzebu o rei do mal
Era festejado em cerimônia especial
Lá lá láIara que seduzia
Pela magia do seu cantar
E os Aruãs que felizes viviam
Não há explicação no seu silenciar
O seu tesouro foi a causa da invasão
Mas os tempos se passaram
Veio a colonização
Viveram nesse recanto de beleza
Catarina de Palma e outros mais
Terra abençoada pela natureza
Com suas festas tradicionaisVaquejada, boi-bumbá
Vem o gaiola vou viajar
Fonte: Portela Web
-