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1968
A primavera em Praga, os estudantes em Paris e os carnavais jamais seriam os mesmos depois de 1968. No Brasil da Ditadura, as passeatas estudantis e a mobilização pela volta da democracia culminariam com a decretação do Ato Institucional número cinco – o famoso e fatídico AI-5, que decretou o fechamento do Congresso Nacional, a cassação das liberdades individuais e o endurecimento do Regime Militar.Se antes os foliões que desciam à cidade para assistir aos desfiles das escolas de samba aprendiam letra e melodia “na hora”, naquele carnaval o público já chegara sabendo os sambas que seriam cantados pelos sambistas dos morros e subúrbios. Meses antes, fora lançado um long-play com os sambas escolhidos nos concursos nas quadras, embalando as agremiações do desfile principal – e abrindo as portas para a definição e segmentação do gênero como filão da indústria de massa. A partir disso, juntamente com a transmissão pela televisão, ampliou-se o debate sobre direitos autorais e abriu-se o caminho para o estabelecimento do chamado “direito de arena”. A época dos sambas longos, com letras inspiradas em temas nacionais e culturais, de estilo rebuscado, começava a chegar ao fim.Porém, marcaria como definitiva a presença da Águia como o símbolo mais aguardado de todas as escolas de samba: pela primeira vez o abre-alas da Portela saiu com a águia, cujo executor foi Ubiratan da Silva, o sargento Bira, vindo a seguir uma comissão de frente vestida em trajes de época e uma ala coreografada exibindo samba.A Portela, presidida por Nélson de Andrade de 1962 até 1967, trazido por Natal dos Acadêmicos do Salgueiro, tinha como presidente, agora, Caetano Piloto, também dirigente do Imperial Esporte Club, na Estrada do Portela, junto à Estação de Magno. Foi nesse clube que a Portela passou a ensaiar depois que a Portelinha deixou de comportar o imenso público dos seus ensaios, antes da inauguração do Portelão, em 1972. Entre os muitos visitantes ilustres, o presidente Eduardo Frei, do Chile, em visita oficial, que aplaudiu entusiasticamente os passistas da escola.Com o enredo “Tronco do Ipê”, de João Ramos Pacheco e Hamilton Ribeiro, inspirado na obra de José de Alencar, trazia samba de Cabana, um dos fundadores da então pequena Beija-Flor de Nilópolis.Alegando problemas pessoais, Vilma passou o posto de porta-bandeira para Irene e desfilaria como destaque. Porém, nos registros de então, não só Vilma com também Benício foram fotografados com roupas de porta-bandeira e mestre-sala. Contam, por ocasião do suposto afastamento do Cisne da Passarela, que se Vilma era nota 10, Irene não ficava por baixo: Irene era 15. Daí, o apelido que a consagrou nos anos seguintes na Majestade.Esse ano também ficou marcado pelas fortes chuvas. O desfile começou às 22 horas e só terminou por volta do meio-dia. A Portela desfilou entre a Vila Isabel e a Estação Primeira. Quando entrou na passarela, a chuva desabou impiedosamente, só cessando quando Mangueira começou o seu desfile.O carnaval da Portela foi dividido em três partes: na primeira, uma tela representava a mãe d’água, com um carro alegórico mostrando o Boqueirão – cenas mostrando a festa dada pelo nobre barão, com crianças representando brinquedos e casamento de bonecas; outra tela mostrando a partida de Mário para a corte a fim de completar seus estudos.Na segunda parte, cenas de batuque na senzala, escravos com belas fantasias seguidos por pastoras e pastores mostrando o interior de um salão onde se dançava a quadrilha, casal de mestre-sala e porta-bandeira, a bateria, carro alegórico representando a cabana do Pai Benedito (destaque do setor). Uma curiosidade sobre este carro: ele era montado e desmontado, apresentando quatro figuras - Mário, o barão, Pai Benedito e Tia Chica, principal destaque do primeiro setor – parecendo antecipar, naquela época, um efeito que marcaria os desfiles destes anos 2000 pelas mãos do carnavalesco Paulo Barros, guardadas as devidas proporções, é claro.Já a terceira parte representava o sonho de Alice concretizado com o casamento de Mário, com a ilustração do portal da capela (barroco); fazia-se uma exaltação ao romancista com uma tela com o retrato de José de Alencar. O final do desfile reunia o conjunto de passistas da escola (Cacilda, Nívea, Tijolo, Irene, entre outros).As telas ficaram sob responsabilidade de Ubiratan Assis e Paulo Ribeiro. Ubiratan Assis cuidou, ainda, dos figurinos, esculturas e cenografia, além da Águia, obviamente.Sem dúvida, a Portela era a escola mais luxuosa a entrar na avenida, naquele ano.A comissão julgadora foi composta por Danúbio Galvão, Inácio Guimarães, João de Barro, Johnny Franklin, Napoleão Muniz Freire, Cláudio Barbestefano, Ítalo de Oliveira, Maurício Shermann, Sandra Dicken e Ricardo Cravo Albin.Ficha técnica:Resultado: 4ª Colocada do Grupo 1, com 83 pontosData, Local e Ordem de Desfile: 25/02/68, Domingo, CandeláriaCarnavalesco(s): João PachecoPresidente:Diretor de Harmonia:1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vilma e BenícioBateria: Mestre BetinhoContigente:Samba enredo:autores:Apresentamos neste carnavalEsta história exuberanteCheia de trechos sensacionaisE episódios eletrizantesEscrita por José de AlencarGrande vulto de valor excepcionalOrgulho da literatura nacionalTronco do ipêÉ o ponto culminante desta históriaOnde o pai Benedito fazia feitiçariaReunia os escravos no localE lá fazia um batuque infernal (solfejo do batuque)Muito importante e também de emoçãoFoi quando Alice caiu no boqueirãoMário num esforço sobrenaturalConsumou a sua salvaçãoOutro fato bem marcanteFoi a carta testamento do barãoE a passagem mais belaFoi o casamento de Mário e Alice na capela (solfejo)Oh! Que maravilha! /Na casa grande / bisTodos dançando a quadrilha /
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