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1966
O ano de 1966 foi um dos mais trágicos da história recente do Rio de Janeiro. Fortes chuvas castigaram a cidade nas semanas que antecederam o carnaval e causaram enormes danos para a população. Algumas escolas chegaram a ter suas quadras destruídas pela força das tempestades. Diante do estado de calamidade, algumas pessoas não encontravam motivos para brincar carnaval. Entretanto, o poder público resolveu fazer justamente o contrário, incentivando a folia como forma de suavizar a dor.Nelson Andrade desenvolveu o enredo da Portela, baseado no livro "Memórias de um Sargento de Milícias", escrito no século XIX por Manuel Antônio de Almeida. Com essa obra, a Portela tentaria conquistar o campeonato que fugira no ano anterior.Assim como o romance, a Portela retratava um Rio que havia ficado no passado. A história girava em torno de Leonardo, o sargento de milícias, que vivia suas aventuras românticas. O canal do Mangue, então um recanto boêmio, era o cenário onde se desenrolava a trama. A autoridade policial era representada pelo temível Major Vidigal, outro personagem importante no enredo preparado por Nelson.Para concretizar as idéias de Nelson, Nilton Peres e Joacir cuidavam do barracão da escola. O samba fora escrito pelo jovem compositor Paulo César Faria, conhecido pelos amigos como Paulinho da Viola, o primeiro e único samba desse grande mestre da música brasileira que a Portela levou para desfile.A Portela pisou a passarela já na manhã de segunda-feira. Em seu carro abre-alas, destacava-se uma tabuleta com as inscrições "Era no tempo dos Reis", indicando a volta ao passado que a escola pretendia fazer. Logo em seguida, vinha a comissão de frente e Daise Barbosa, interpretando a personagem Carlota Cristina.Seguiam-se alegorias que retratavam as três marias-antonietas puxadas por quatro bumbas-meu-boi, uma rua com onze bonecas, as barbeiras, e a figura do "Sargento de Milícias" em tamanho grande. Sem dúvida, a escola mostrava seu enredo de maneira bastante inteligente e feliz, dando um toque azul e branco à obra de Manuel Antônio de Almeida.A potente voz da Jovem intérprete Surica empolgava os componentes e o público. Sob fortes aplausos, a bateria, as baianas e os passistas portelenses deixaram a avenida sonhando com mais um campeonato. A apresentação não deixava dúvidas de que a Portela era forte candidata ao título.Quando os envelopes foram abertos, uma apuração disputada apontou a vitória da Portela com 130 pontos, apenas um à frente da Mangueira. A festa em Oswaldo Cruz podia começar.Prejudicada pelas chuvas que castigaram a cidade, a Império da Tijuca desfilou de maneira simbólica, como homenagem ao governo e ao povo do Rio de Janeiro, agradecendo à Associação das Escolas de Samba e às escolas co-irmãs pela solidariedade prestada. Como reconhecimento pelas dificuldades enfrentadas, a agremiação não foi rebaixada de grupo.Era o décimo-oitavo título da Portela.Ficha técnica:Resultado: Campeã do Grupo 1, com 130 pontosData, Local e Ordem de Desfile: 20/02/66, Domingo, CandeláriaCarnavalesco: Nelson de AndradePresidente: Nelson de Andrade1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vilma e BenícioBateria: Mestre Oscar Pereira de SousaContigente:Samba enredo:autor: Paulinho da ViolaEra no tempo do reiQuando aqui chegouUm modesto casalFeliz pelo recente amorLeonardo, tornando-se meirinhoDeu a Maria Hortaliça um novo larUm pouco de conforto e de carinhoDessa união nasceu um lindo varãoQue recebeu o mesmo nome de seu paiPersonagem central da históriaQue contamos neste carnavalMas um dia MariaFez a Leonardo uma ingratidãoMostrando que não era uma boa companheiraProvocou a separaçãoFoi assim que o padrinho passouA ser do menino tutorA quem deu imensa dedicaçãoSofrendo uma grande desilusãoOutra figura importante de sua vidaFoi a comadre parteira popularDiziam que benzia de quebrantoA beata mais famosa do lugarHavia nesse tempo aqui no RioTipos que devemos mencionarChico Juca era mestre em valentiaE por todos se fazia respeitarO reverendo, amante da ciganaPreso pelo Vidigal, o justiceiroHomem de grande autoridadeQue à frente dos seus granadeirosEra temido pelo povo da cidadeLuizinha, primeiro amorQue Leonardo conheceuE que dona MariaA outro como esposa concedeuSomente foi felizQuando José Manuel morreuNosso herói outra vez se apaixonouQuando sua viola a mulata VidinhaEsta singela modinha contou:Se os meus suspiros pudessemAos seu ouvidos chegarVerias que uma paixãoTem poder de assassinar
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