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1963
O ano de 1963, do ponto de vista político, prometia ser conturbado. Em janeiro, os brasileiros haviam participado de um plebiscito para manter o parlamentarismo ou retornar ao presidencialismo. O presidencialismo venceu e o poder retornou para as mãos do presidente João Goulart (1919-1976). O povo comemorou o carnaval em clima de festa democrática.
O desfile do Grupo 1 da antiga Associação das Escolas de Samba do Brasil - AESB - ocorreu no domingo, dia 24, na Avenida Presidente Vargas, entre a Avenida Rio Branco e a Rua Regente Feijó. Desde 1957, as escolas vinham se apresentando na Rio Branco. Mas o governador Carlos Lacerda havia criado a Secretaria de Estado de Turismo e colocou no cargo Vitor Bouças. O novo secretário resolveu levar o desfile de volta à Presidente Vargas. A concentração ficou na Praça Pio X, na Candelária.
Cerca de 100 mil pessoas foram até o Centro da cidade para assistir 12 mil sambistas evoluindo até as 10h da manhã de segunda-feira. As escolas gastaram Cr$ 250 milhões para engrandecer a maior manifestação da cultura popular brasileira.
O tradicional atraso e a pancadaria da polícia foram comentados pela imprensa carnavalesca. Mas a violência foi menor. O atraso foi de uma hora e meia e a polícia esteve mais calma que nos anos anteriores.
Pela primeira vez os jurados foram distribuídos por toda a pista de desfile, em cabines individuais. As notas valiam de 5 a 1. O meio ponto foi extinto.
Durante os desfiles, o espaço entre as escolas alcançou um quilômetro ou cerca de 20 minutos de "branco" na avenida. A Portela demorou para entrar na Candelária. O objetivo, segundo o presidente da escola, Nelson Andrade, era causar impacto.
A escola apresentou o enredo "Barão de Mauá e sua realizações", de Nilton, Orebe, Peres e Finfa. A primeira alegoria da escola se chamava "O Arsenal" e representava o incêndio criminoso que destruiu o estaleiro Companhia Ponta de Areia, em 1857, uma das indústrias do Barão de Mauá. A segunda alegoria trazia outras atividades do Barão no comércio e na indústria, e a terceira alegoria uma estátua do homenageado com outras de suas realizações, que iam de bondes ao telégrafo submarino.
O samba de Walter Rosa e Antonio Alves descrevia muito bem o enredo, mas era um pouco difícil de ser cantado. Assim, o conjunto da escola e o samba-enredo não passaram bem pela avenida, apesar de a Portela ter desfilado com seu escrete de estrelas completo: Vilma, Benício, Waldir 59, Jaburu, Betinho, Dodô, entre outros. A imprensa deu atenção para a agitação do presidente portelense, que corria toda a pista "de apito na boca", e para a destaque Otília, com seu vestido de Cr$ 800 mil. Uma pequena fortuna na época.
Luiz Augusto Pedregal Sampaio (Fantasias), Arlindo Marques Junior (Bateria e Melodia), Rubem Correa (Enredo e Letra), Nina Vereschinina (Mestre-sala e Porta-bandeira) , Armando Schomoon (Alegorias), Cesar Teixeira (Evolução e Conjunto), Gessi Santos (Comissão de Frente e Bandeira), Aroldo Bonifácio (Harmonia) e Manoel Antonio Mendonça, Everaldo de Barros, Aroldo Costa e Heitor Dias (Desfile) deram a vitória ao GRES Acadêmicos do Salgueiro, que fez um desfile histórico. A Portela ficou em quarto lugar, com 80 pontos, atrás de Salgueiro (93 pontos), Mangueira (85 pontos) e Império Serrano (80 pontos).
A quarta colocação feriu os brios portelenses e a escola retornaria com toda força para o carnaval de 1964, o último antes do golpe militar que jogou o país num longo período de ditadura. Os "Anos de Chumbo" iriam influenciar também o desfile das escolas de samba.
Ficha técnica:
Resultado: 4ª Colocada do Grupo 1, com 80 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 24/02/63, Domingo, Candelária
Carnavalesco: Nilton, Oreba, Peres e Finfas
Presidente: Nelson de Andrade
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vilma e Benício
Bateria:
Contigente:
Samba-enredo:
Compositores: Walter Rosa e Antonio Alves
Vulto de notável mérito
Que a indústria do país glorificou
Irineu Evangelista de Souza
A primeira estrada de ferro criou
Base da siderurgia nacional
Fundição na Ponta de Areia
O fator principal do progresso nacional
E também o Canal do Mangue
Com suas palmeiras imperiais
Quantas lembranças nos traz
Heranças históricas
Rio antigo de lampiões a gás
Rio Grande do Sul
Berço deste ilustre brasileiro
Que adquiriu conhecimento no estrangeiro
Desenvolveu e protestou contra a nevagação
Em trânsito livre no Amazonas
Por outra nação
Após sofrer rudes golpes de sorte
Nos derradeiros momentos da monarquia
O pioneiro Barão de Mauá
Em 89 desaparecia
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