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1962
Contrariando as previsões dos críticos de que os bailes de carnaval estariam restritos aos salões dos grandes clubes, o ano de 1962 marcou o renascimento do carnaval de rua. Bandos de foliões, em blocos e cordões, tomaram as ruas da cidade no que foi considerado o maior carnaval da época. Até a previsão da meteorologia, de chuva para os quatro dias de folia, foi por água abaixo, literalmente. O sol deu o ar de sua graça do primeiro ao último dia de folia. Porém, como em toda festa momesca, o momento mais esperado era o desfile das grandes escolas de samba.
O desfile mais aguardado era o da Mangueira, campeã do ano anterior, e considerada a favorita para vencer a disputa desse ano, na busca pelo bicampeonato. A Portela, entretanto, com um desfile impecável, sagrou-se a grande campeã do ano. Com o enredo “Rugendas ou Viagens Pitorescas através do Brasil”, do carnavalesco Nelson de Andrade, a azul-e-branco de Osvaldo Cruz e Madureira roubou o título da coirmã verde e rosa.
O desfile das grandes escolas, no entanto, foi marcado por muita confusão, que começara no ano anterior. Em 1961, Victor Bouças, então diretor do Departamento de Turismo e Certames da Guanabara - DTC, criou o Júri-Móvel, ou seja, uma carreta onde ficaria instalada a comissão julgadora. Essa carreta deveria circular pela avenida enquanto a escola desfilava. A engenhoca, contudo, não funcionou, e em 1962 o júri voltou a ser fixo. Nesse mesmo ano, o diretor do DTC propôs que o desfile das escolas de samba fosse realizado no Maracanã, pois a Av. Rio Branco já não comportava o crescimento das escolas. Em 1962, foi realizado o último desfile na Av. Rio Branco, o qual iria, a partir de então, para a Candelária (Av. Presidente Vargas).
Previsto para começar às oito horas da noite, o desfile atrasou por duas horas devido à quebra do carro do Cidadão Samba, que se recusou a desfilar em outro carro alegórico. A invasão da pista também provocou atraso no cortejo. Com isso, a Portela, terceira agremiação a desfilar, só pisou na avenida por volta de duas horas da manhã. Além disso, o presidente da azul-e-branco afirmou que sua escola só entraria na avenida com a pista limpa. Após essa exigência, Vitor Bouças, Diretor do DTC, determinou que suas “canarinhas”, recepcionistas do departamento, fizessem um cordão de isolamento visando a retirar da avenida os foliões. Um outro cordão, formado por policiais, vinha atrás distribuindo bordoadas em quem continuasse na pista.
Após a limpeza da avenida a Portela pôde desfilar. A agremiação surpreendeu mais uma vez o público e os jurados. Entre suas alegorias, a escola trouxe um carro que levava uma junta de bois e uma pia colonial, toda decorada com ladrilhos portugueses. Isso sem contar os passistas, seis no total, sendo três homens e três mulheres. Esses integrantes, no meio do desfile, paravam de sambar, formavam casais e dançavam samba de gafieira na pista. Ao final do desfile o público consagrou a Portela como a grande campeã do carnaval, o que foi ratificado pelos jurados. Junto com o título, a agremiação conquistou ainda o Tamborim de Ouro. De acordo com o presidente da escola, Nelson de Andrade – conhecido como Nelson Marrom –, para vencer a disputa a Portela gastou cerca de 20 milhões de cruzeiros.
A Portela inovou também em outro aspecto: pela primeira vez foi feita uma junção de sambas, daí o elevado número de compositores, coisa incomum para a época – a primeira parte era da composição de Zé Kéti; a segunda, de Marques Balbino, Nílton Batatinha e Carlos Elias. A escola contou também com a ajuda de integrantes de sua comunidade no barracão, no qual trabalharam Nilton Oreba (Nilton Telles da Silva), Juca (José Rocha) e dona Albertina, sua esposa, que bordou a bandeira da escola por muitos anos.
Outras particularidades aconteceram no desfile desse ano. Entre elas, o fato de que 1962 foi o último ano em que a Coca-Cola Refrescos e o Jornal Última Hora patrocinaram o desfile extra, antes do carnaval. A iniciativa acontecia na Praça XVII e no Campo do Fluminense, e não voltou a ocorrer após 1962. Foi também nesse ano que se realizou o 1º Congresso na cidade do Rio de Janeiro, sendo instituído o Dia Nacional do Samba. O primeiro desfile de escolas de samba com arquibancadas para assistência, vendidas ao público, foi no carnaval de 1962, na Avenida Rio Branco, com 3.500 lugares.
Ficha técnica:
Resultado: Campeã do Grupo 1, com 126,5 pontos
Data, Local e Ordem de Desfile: 28/02/60, Domingo, Av. Rio Branco
Carnavalesco: Nelson Andrade
Presidente:
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vilma e Benício
Bateria:
Contigente:
Samba-enredo:
Autores: Ze Kéti, Batatinha, Carlos Elias e Marques Balbino
Achou tão maravilhoso
Os costumes e a nossa natureza
Que transportou para as telas
Toda a imensa beleza
Deixou muitas aquarelas
Retratos a óleo, paisagens diversas e composições
A arte de desenhar
Cresceu em suas mãos
Há de existir no Museu de Munique
Documentado em pintura
As cenas tristes e alegres
Das fazendas do Brasil
Nos tempos da escravatura
Retratou vários tipos raciais
As paisagens e os costumes regionais
Do nosso Brasil de outrora
Catalogou os seus trabalhos e embevecido
Publicou-os, tornando conhecido
Um pouco do Brasil este mundo afora
João Maurício Rugendas
Para nós é uma glória
Cantar e reviver teu passado
Tua obra grandiosa e tua história
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